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Foto do escritorAlessandro Coelho

A segunda natureza

Fui praticante das Artes Marciais Chinesas por um longo tempo da minha vida e devo a essa arte todo o alicerce que me impulsionou para minhas buscas espirituais. Durante todos esses anos dedicados a essa arte tive a oportunidade de vivenciar vários ensinamentos advindos de conhecimentos mais antigos, conhecimentos estes que formaram e ainda formam vários artistas marciais. Lembro em especial de um ensinamento que até se tornou um jargão em filmes e livros que tratavam do assunto. Sempre ouvia e lia a respeito de que a arte marcial deveria se tornar a nossa segunda natureza e isso, muitas vezes era entendido por mim, de uma forma que hoje considero equivocada. Esse ensinamento não se restringe somente a essa arte, mas a tudo na vida, eu explico.

Para entendermos o que é a segunda natureza precisamos entender qual é a primeira natureza do ser humano. Segundo O sábio Patanjali em seu tratado de yoga o Yogasutra, no terceiro sutra do primeiro capítulo, O discípulo se estabelece em sua própria natureza. Esse aforismo nos remete a primeira natureza do homem que é a natureza budica ou espiritual onde as experiências do ego não interferem. Entendemos que a dualidade que é vivenciada pelo ego não retrata a natureza da existência humana, sendo apenas experiências, necessárias, mas passageiras. Então a segunda natureza, aquela relatada pelos antigos mestres marciais, seria de domínio do próprio ego já que a natureza primeira é única e diferente de qualquer vivência das personagens que representamos.

Penso que a segunda natureza seja a da ação pois toda atuação nessas vivências egóicas se baseia nessas ações, ou melhor dizendo, no Karma. Mas qual o significado disso? Qual o sentido de tornar a ação uma segunda natureza? Entendamos isso não como uma automatização das ações da vida e sim uma extensão dos próprios mecanismos do agir. Um desses mecanismos é a consciência adquirida através de outro mecanismo, a compreensão. Transformar a ação consciente na própria natureza do ego é de extrema importância para o equilíbrio das nossas experiências de vida e saúde da mente.

Os mestres marciais nos incentivam a prática dessa segunda natureza através da repetição dos movimentos daquela arte até que nós nos tornemos o próprio movimento e consequentemente a segunda natureza não pelo automatismo, mas pelo próprio conteúdo da mente que gera aquela ação de defesa. Podemos trazer esses mesmos conceitos para nossas práticas de vida e de yoga pois são, a meu ver, universais e invariáveis.


Bons estudos, boas práticas.


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